No outro dia, em conversa com uma amiga minha, tomei consciência de uma questão que pode ser dúbia eticamente para algumas pessoas. Ela desabafava comigo como lhe tinha custado descascar acácias na Mata da Machada, no Barreiro, a propósito da uma acção de controlo de espécies invasoras naquela mata municipal. Não se sentia bem ao matar árvores, confidenciou-me. Fiquei a pensar naquilo.
Em jeito de contextualização, as acácias são espécies não-nativas invasoras que se instalaram na Mata da Machada e que põem em causa o equilíbrio dos habitats de outras espécies nativas que contribuem para a protecção da biodiversidade. O que acontece é que, como qualquer espécie chamada invasora (entenda-se que se chama desta maneira porque são trazidas acidentalmente, mas têm a capacidade de colonizar o espaço à sua volta), as acácias impedem o desenvolvimento de árvores nativas. Ao acontecer, modificam física e químicamente o solo, introduzindo novos parasitas e doenças, como algumas alergias que podem ser bastante complicadas.
Ora, ainda que possa ser discutível se uma planta sente dor ou não – embora a ciência acredite que não, porque as árvores não têm neurónios sensoriais – é importante pensar para que servem as florestas. Em todo o mundo, seja em que parte do globo for, a floresta é vida. Se não, vejamos: é ela que nos dá ar puro, água potável, alimentos e matéria-prima, tornando-se fundamental no ciclo de vida ambiente-economia-sociedade. No entanto, se uma floresta for dominada por espécies que não lhe pertencem, todos estes elementos são postos em causa, colocando em causa, também, a própria sobrevivência dos seres humanos. Por contraste, uma floresta nativa – aquela que não tem espécies de outros ecossistemas – potencia o bom desenvolvimento da biodiversidade e, consequentemente, da vida existente na terra.
Portanto, sim, acabar com as árvores invasoras é benéfico para todos nós. E não podemos pensar que estamos a matar parte da natureza, antes pelo contrário, ao fazê-lo estamos a regenerá-la e a pôr as coisas certas nos lugares certos, aqueles que são imprescindíveis para nós.